terça-feira, 30 de outubro de 2007

Choque de gestão ou educação de pessoas

É comum as ouvir as pessoas comentarem, "isto é um problema de gestão", com também escuta-se comentar "isto é um problema de educação" e não apenas nos problemas de governo, mas também nas empresas e na vida pessoal. Claro que estes dois discursos não são excludentes, eles são diferentes, mas complementares. Só que a ênfase em um ou outro é que determina o tom da ação.

Vejo que o discurso do choque de gestão pode ser relacionado à eficiência de processos, e envolve software, rotinas administrativas, procedimentos, manuais, hardware. Já o discurso de educação tem mais a ver com o humanware, ou seja com os valores das pessoas que ocupam determinadas posições, ou seja com a capacidade destas pessoas tomarem decisões, e responsabilizarem-se por suas decisões, entendendo as consequências dos seus atos em sentido geral, para si e para a sociedade.

Assim, percebe-se que o discurso do choque de gestão - da eficiência administrativa, com ênfase em metas e resultados - difere do discurso da conscientização das pessoas - da sensibilização e da atuação com ênfase na escolha. O primeiro provavelmente produzirá desigualdade social, pois separará aqueles capazes de dar ordens e os capazes de obedecer; aqueles capazes de produzir os resultados considerados, dos inúteis ou ociosos. O segundo provavelmente produz igualdade, pois considera a vida como valor fundamental de cada ação, de cada escolha humana; entretanto, não está focado necessariamente em resultados, mas sim em pactuar escolhas de convívio e de futuro comum.

O dilema é que no mundo atual, os países desenvolvidos parecem ter dado mais ênfase aos processos que as pessoas. E os países subdesenvolvidos parecem ter dado mais ênfase às pessoas que aos processos. Daí entra a questão dos valores: vale mais ser um país produtivo que bombardeia outro país ou ser um país ocioso em paz? É uma questão de valor, também.

No nível individual a mesma coisa. Quem tem mais voz, quem tem mais poder, quem tem mais dignidade? Vale mais um funcionário que é respeitoso com os colegas ou um que atinge as metas a qualquer preço? Quem ganha a corrida do reconhecimento social, o pacífico ou o violento? Há processos que são violentos, mas que geram resultados; estes são desejáveis? Até a palavra "choque", no choque de gestão tem um quê de violência e de poder. Vão fazer o quê, ligar os funcionários no 220v? Mas também pode-se fazer a mesma pergunta para a educação, pois não é pela coerção ou pelo castigo que se impede um aluno de colar na prova ou de conversar em sala de aula? Mas esta não é boa educação. Então, a violência é uma escolha (da falta de educação); não um processo.

E colocando a questão no âmbito do dilema brasileiro, o que vale: é o choque de gestão ou é o investimento em educação?

A sentença parece que termina neste tom: Educação sem gestão é boa semente em terra árida; Gestão sem educação é terra onde proliferam as ervas daninhas. A Gestão-Educação põe a gestão a serviço de bons valores, cultiva os resultados da boa semente que a terra pode produzir.

Nenhum comentário: