quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O mercado não é a única fonte de valor

Todas as sociedades estabelecem trocas. Nelas, estão codificados papéis e normas sociais. As trocas permitem que diferentes grupos acessem diferentes bens e conhecimentos. Além disto, na troca estabelece-se o laço social do ser humano, na medida em que nenhuma pessoa se basta em si mesma, nem para a sua sobrevivência. Ela precisa do outro para suprí-lo em suas necessidades, e daí que a própria troca passa a ser uma estratégia de sobrevivência e crescimento.

Os mercados surgiram como centros, pontos de encontro em que muitas pessoas e grupos dirigiam-se para trocar produtos. Cidades comerciais, entrocamentos de estradas e portos. Pessoas de lugares diferentes, distantes, traziam seus produtos em busca também de novos produtos que pudessem ser utilizados ou revendidos.

Deste encontro de grupos, deste encontro de vontades de consumo e ofertas de produto, surge o valor dos bens. O escambo se coloca como um mecanismo de trocas. Quando é inventada a moeda, esta serve de representação do valor dos bens, e a troca dá um salto quantitativo.
Entretanto, os mercados não são a fonte de valores, ao menos não a única. Toda a sociedade define itens e bens que não são acessíveis na esfera do mercado. Por exemplo, o casamento é um dos itens que normalmente não está acessível pela moeda. Muito embora, algumas culturas ainda pratiquem o dote, e possa argumentar-se que há interesses financeiros envolvidos. Outro exemplo é que as pessoas não devem ter preço. O que foi praticado no comércio de escravos: justamente colocar uma pessoa no mercado e atribuir-lhe valor. Atualmente, é o consenso social que dita que a escravidão não é desejável e que as pessoas não podem ter valor de mercado (apenas as coisas). E também, a amizade não seria algo comprável. Ela teria mais que ver com uma troca não monetária: favores, presentes, diálogo.

O prestígio, ou respeito, é outro item que na maioria das sociedades não é possível de ser comprado. Este se originaria de uma conduta correta para com o semelhante. Comportamentos e ações corretos trariam o respeito social. Um certificado de homenagem não pode ser comprado, por exemplo.

O problema é que como a esfera de troca do mercado vem sendo predominante na nossa sociedade capitalista ocidental, valores como a amizade e o respeito estão "perdendo valor", uma vez que não têm sido suficientes para garantir o sustento pessoal de quem os pratica. É um problema sério, pois a ética de mercado não é verdade inquestionável, ao contrário, sem a cooperação e o respeito torna-se o capitalismo selvagem, onde o lucro apenas interessa.

Por isso, deveríamos tentar conceber uma sociedade em que os valores de mercado não fossem absolutos, onde o sujeito não pode conquistar tudo pelo dinheiro, tudo não pode ter um preço. Se isto acontecer fica como se fosse a ditadura do dinheiro. Se a sociedade, enquanto consenso social, permitir que determinados itens sejam exclusivamente conquistados pela cooperação familiar, amical; pelo reconhecimento da honradez, e existam prêmios sociais para isto, pronto estaremos estimulando um comportamento que contrabalança o movimento absoluto do capital.

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