segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Gerar demanda econômica é criação do tempo livre e da atenção social

O tempo livre é que gera a base da demanda por bens e serviços.

Se projetarmos que a demanda é um reflexo das necessidades sociais e biológicas; a primeira necessidade é de alimentação, assim como de abrigo e proteção. Por isso, gêneros alimentícios, construção civil e vestuário são indústrias básicas e encontradas em qualquer sociedade.

Este tempo livre tem como base os superávits agrícolas. Só porque a produção de alimentos pode ser feita para um grande número de pessoas, isto gera tempo livre. Por isso que as revoluções agrícolas são a base das sociedades modernas.

Mas o que fazer com o tempo livre? As primeiras sociedades, pegaram o excedente agrícola e formaram milícias e exércitos. Assim, o Estado tributava os agricultores e pode instituir um pagamento em alimentos aos soldados que tinham o seu sustento garantido. Com estes exércitos, podiam conquistar mais terras e tributar mais pessoas ampliando seus domínios e formando civilizações.

Hoje, a sociedade trabalha com muitas opções para ampliar o nosso tempo livre: na escolha entre preparar o nosso próprio alimento e comprá-lo num restaurante ou num fast-food; na escolha entre lavar roupas à mão ou na máquina de lavar; na escolha entre sair de casa ou pedir entrega em domicílio, etc. São tantas opções para ampliar o nosso tempo, que isto gera uma demanda agregada por novos serviços.

Com esta nova demanda, uma oferta também se estabelece no mercado. Daí a impressão que não temos tempo. Pois a oferta é tão variada, que não temos tempo de "experimentar" todas as possibilidades ofertadas. Embora nosso tempo livre seja maior, nosso desejo de consumo também é maior, pois vemos tantas ofertas, tão diferentes e variadas. Que nos perdemos, como diante de um menu de restaurante com muitas opções. Ao mesmo tempo, gostaríamos de experimentar todos os pratos - o que não é possível.

Assim, passamos a fazer "coleções" das coisas que experimentamos no nosso tempo livre, acumulando experiências e bens. Dedicando tempo e atenção, vamos nos especializando em determinada área do saber e do consumo, e nosso consumo vai nos dotando de qualidades, possibilitando inclusive, em algum momento, revertar nossa demanda como oferta de opinião especializada.

Quem dedicou tempo a rezar ou meditar, pode tornar-se um ótimo padre ou monge; quem dedicou tempo aos estudos pode-se tornar um sábio ou um intelectual; quem dedicou atenção ao dinheiro e aos negócios, pode-se tornar milionário; quem dedica tempo à Internet pode-se tornar exímio internauta - o que pode dizer muitas coisas dependendo do tipo de dedicação: conhecer os recursos tecnológicos da mesma, ter muitos amigos on-line ou mesmo ser um empreendedor eletrônico.

A Internet, só pôde acontecer, como fenômeno social, cultural e tecnológico, por conta do tempo livre. Entretanto, ela só é possível manter-se com sua atual configuração de serviços, neste cenário de produção de alimentos. Basta um crise de desabastecimento séria no setor de alimentos, que as pessoas dirão, não tenho tempo para acessar a Internet hoje pois vou caçar. Ou então, caçarão alimentos pela Internet.

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